Ricardo George de Araújo Silva
Ao observarmos o tema a cima, somos tentados a ligar o aspecto político a Educação, como se fez em outros momentos, por muitos. Contudo, não se trata disso. Nosso objetivo é refletir um pouco sobre a perspectiva da pensadora Alemã Hannah Arendt sobre o tema.
Embora Arendt nunca tenha se ocupado prioritariamente com o tema Educação, na obra “Entre o passado o futuro” ela destaca um ensaio intitulado “a crise na Educação. Aqui o enfoque recai sobre a dimensão da autoridade e da responsabilidade pelo mundo.
No que concerne a autoridade, segundo Arendt, esta se encontra em déficit na educação. Para a Arendt o ato de educar pertence aos adultos, sejam pais ou professores. Sendo assim, a criança nunca é responsável pelo aprendizado, pode a ter ser protagonista e, é relevante que seja. Contudo, o que se observou, principalmente a partir das abordagens da escola nova, foi um esvaziamento do sentido de ser professor na medida em que o professor deixou de ter a intenção do ato de educar pra ser apenas um mediador. Mas, mediador de que? Do aprendizado?. Para Arendt a tarefa da escola, como mundo pré-político, é proteger a criança do mundo adulto, no sentido de permitir seu desenvolvimento e prepará-la para adentrar esse novo, preservando na criança toda capacidade de iniciar que ela detém. A criança não pode sentir-se responsável pelo mundo adulto.
Esta dimensão de proteção do mundo é importante na medida em que os adultos e, sobretudo, os educadores são capazes de preservar o mundo enquanto, espaço comum, para estas crianças. Mas como fazer isso sem autoridade? A autoridade está em crise porque a sociedade está em crise. Ter receio de dar limites ou ter medo de afirmar que a intenção do processo de ensinagem pertence ao professor, são frutos de uma incompreensão que distorceram os significados do ato de educar. Valorizar o aluno e, respeitá-lo como agente do processo de aquisição do conhecimento e, reconhecer que o foco é ele e, não o saber isolado, não implica em transferir papeis. A autoridade é do adulto da relação, neste caso, do professor.
Assim, temos que a educação como toda prática pré-política se dá entre desiguais, os que educam são desiguais dos seus aprendentes, porque a responsabilidade pela manutenção do mundo comum, livre, justo e de direitos, é tarefa deles, adultos e, não das crianças. Esse mundo precisa ser protegido e perpetuado para receber esses novos agentes.
Por fim, temos, segundo Arendt, que a educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo bastante para assumirmos a responsabilidade por ele, e com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse à renovação e a vinda dos novos e dos jovens. A educação é também onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência, para a tarefa de renovar um mundo comum.
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